domingo, 23 de dezembro de 2007

Burocracia e poesia

Hoje, navegando pela internet, descobri que o grande poeta mineiro Murilo Mendes exerceu a função de bancário durante muitos anos.
Aliás, é comum que bancários, funcionários públicos, escriturários, dentre outras tarefas burocráticas, tenham destaque na literatura, a citar o exemplo do nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade, que durante quase toda sua vida exerceu a função nada poética de funcionário público no Ministério da Educação, simultaneamente à publicação de suas poesias.

Para Drummond, foi quase meio século de funcionalismo público e poesia.

Eis alguns trechos da "Confidência do Itabirano", de Drummond, com grifos meus:

(...)

A vontade de amar que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança Itabirana.

Será que Drummond tem razão? Será que amar, ou então qualquer tipo de vivência emocional, é o oposto do trabalho, visto na sua acepção mais opressora?
Será que aí está a explicação daquele sentimento de inutilidade que nos toma, no exercício das nossas funções? Será aí a origem daquela falta de empatia, mesmo atendendo dezenas de pessoas por dia, tornando todas elas cinzas, meros objetos, dos quais queremos nos livrar , ao grito de "próximo"?
Talvez seja isso; pode ser que, no fundo, as funções meramente burocráticas tenham essa inerente falta de significado, esse vazio profundo.

Mais adiante, no mesmo poema:

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Uma promessa de glória, de riquezas, para um provinciano de posses, encrustrado na pequena cidade mineira, se dezfaz na constatação trivial do poeta, de que lhe restou apenas essa função, a de funcionário público. Drummond, com seu talento, e de uma forma que talvez estudiosos de literatura possam melhor desvendar, consegue transmitir uma tristeza tamanha no seu relato, como se ser funcionário público fosse algo beirando o lúgubre.

Um videozinho com esse poema, narrado na própria voz do poeta, aqui.
Outro vídeo, um pequeno documentário feito pela Globo News, falando de sua poesia e abordando o lado funcionário público de Drummond, aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

eu axei is












so mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1

Anônimo disse...

Qual a real interpretação desse texto??!?!!!

nilma disse...

Banpara né

Unknown disse...

Porra, o povo do Banpará veio aqui? Téleseh rsrs eu creio que o erro não seja nem da interpretação do autor de Burocracia e Poesia sobre o poema de Drummond.Muito embora seja Diário Bancário,é um relato compartilhado. Ele quis que outros se identificassem. Não vejo como um texto que trate o funcionários como um coitado oprimido pelo trabalho. Não haveria nem motivação para um Blog. Ou será que todo blog é para se lamentar? Será que oprimidos se lamentam? Penso que o trabalho possa legar algumas características inerentes a ele ao ser humano: ficamos metódicos, disciplinados,criativos ou não, independente do trabalho; mas sobretudo, somos uma pessoa. "Não sejamos postos no lugar das coisas; não tínhamos outra opção quando as coisas éramos nós", emprestei o que diz Saramago em Coisas do livro Objeto Quase. E o cara que escreveu esse texto, também viu isso. Olha o que ele anuncia lá no topo:o proletário engravatado por detrás do guichê. A relação de amor e ódio com os clientes. Drummond é um cara do Modernismo, da Era Vargas, década de 30 e 40 quando esse poema fora escrito; época em que as oligarquias foram afetadas por uma ditadura civil. Itabira, passa por um processo de modernização. Os conflitos do poeta são ligados a essa fase anterior ao trabalho de funcionário e que ele traz para a atual condição. É oposição de sentimentos. Identifica-se com Itabira e a renega; Não tá nem aí para a fotografia na parede, mas ela ainda dói.Há uma desfiguração do homem pelo trabalho, mas pulsa um outro homem que não é o funcionário. O poema tem muitos Drummond. A banca da FADESP precisa de professores de análise textual com máxima urgência! Eu nunca tinha visto tamanha grosseria com um dos maiores nomes do Modernismo brasileiro. Dizer que pensar em Itabira era apenas se desconcentrar do trabalho? Pelo amor. É raso! É medíocre.

Unknown disse...

FADESP = banca lixo